A Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, o Fórum Pensamento Estratégico – PENSES e o Despatologiza - Movimento pela Despatologização da Vida têm a honra de convidá-lo (a) para participar do evento
“II Fórum Construindo Vidas Despatologizadas”
Data: 16 e 17 de novembro de 2015
Local: Auditório do Centro de Convenções - CDC
Universidade Estadual de Campinas – Barão Geraldo
“Ao povo restam os ‘milagres’ médicos e os milagreiros populares. De fato, se economicamente e politicamente ele foi o grande excluído do ‘milagre’ só lhe restou a procura de outros santos. As Instituições Médicas têm sido, assim, um ‘santo remédio’ para os males da saúde do povo.”
(Madel Luz, 1986)
No início de 2002, uma das mais conceituadas revistas médicas internacionais, British Medical Journal, publicou os resultados de levantamento sobre o que os médicos ingleses enquadram em uma irônica definição de não-doença: “processo ou problema humano que alguém definiu como uma condição médica, em que as pessoas poderiam ter melhores resultados se não o encarassem dessa maneira”. A hiperatividade, terminologia ainda mais usada para se referir às disfunções neurológicas que provocariam distúrbios de aprendizagem e de comportamento, foi apontada por 13% dos médicos como uma não-doença. O editor da revista ressaltava que o objetivo da pesquisa não foi desqualificar sofrimentos reais e suas causas, mas alertar sobre o crescente processo de medicalização dos problemas inerentes aos modos de levar a vida nas sociedades ocidentais e a necessidade de tomá-lo por objeto de pesquisa.
Nas sociedades ocidentais, é crescente a translocação para o campo médico de problemas inerentes à vida, com a transformação de questões coletivas, de ordem social e política, em questões individuais, biológicas. Tratar questões sociais como se biológicas iguala o mundo da vida ao mundo da natureza. Isentam-se de responsabilidades todas as instâncias de poder, em cujas entranhas são gerados e perpetuados tais problemas.
Reduzida a vida a seu substrato biológico, de modo que todo o futuro está irremediável e irreversivelmente determinado desde o início, está preparado o terreno para a medicalização, ideário em que questões sociais são apresentadas como decorrentes de problemas de origem e solução no campo médico. Deve ser ressaltado que quando se fala em reducionismo e medicalização/patologização, está-se referindo à concepção de medicina enraizada no paradigma positivista.
A expressão medicalização foi difundida por alguns autores, com destaque para Ivan Illich em 1982, em seu livro ‘Némesis medica’, ao alertar que a ampliação e extensão do poder médico minavam as possibilidades das pessoas de lidarem com os sofrimentos e perdas decorrentes da própria vida e com a morte, transformando as dores da vida em doenças. Segundo o autor, a vida estava sendo medicalizada pelo sistema médico que pretendia ter autoridade sobre pessoas que ainda não estavam doentes, sobre pessoas de quem não se poderia racionalmente esperar a cura, e sobre pessoas com problemas para os quais os remédios prescritos por médicos têm resultados muito semelhantes aos dos oferecidos por familiares mais velhos e experientes.
Especificamente em relação à patologização da vida de crianças e adolescentes, ocorre a articulação com a medicalização da educação na invenção das doenças do não-aprender e com a medicalização do comportamento. A medicina afirma que os graves – e crônicos – problemas do sistema educacional seriam decorrentes de doenças que ela, medicina, seria capaz de resolver; cria, assim, a demanda por seus serviços, ampliando a medicalização.
Todos os aspectos da vida, em toda sua sanidade e sua saudável insanidade, serão tomados de assalto e transformados em transtornos mentais, segundo o códex /bíblia da Associação Americana de Psiquiatria: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM.
Sexualidade, desejos, sonhos, lutas, tudo será objeto da busca de padronização e homogeneização, que abstrai as pessoas em suas totalidade e singularidade, restando apenas defeitos, transtornos e doenças.
No Brasil, esse movimento para trás, adubará também o solo para os ataques à política de saúde mental em perspectiva antimanicomial, com ressurgimento de manicômios e processos autodenominados terapêuticos, que mais se assemelham a castigos medievais.
Daí em diante, a patologização da vida ocorrerá em assombrosa espiral, culminando na epidemia de diagnósticos de transtornos mentais que assola o mundo contemporâneo.
Temos à nossa frente uma grande tarefa coletiva: resistir a esses processos que patologizam a vida, retirando-a de cena.
Para mais informações e inscrição, acessar o endereço: http://www.gr.unicamp.br/penses/II-forum_vidas_despatologizadas/
O evento é gratuito e serão emitidos certificados de participação aos que se inscreverem no site.