Profa. Dra. Débora de Souza Santos
Profa. Dra. Maria Filomena de Gouveia Vilela
Profa. Dra. Eliete Maria Silva
Profa. Dra. Dalvani Marques
(Área de Saúde Coletiva da FEnf/Unicamp)
No dia 12 de março de 2020, a Reitoria da Universidade Estadual de Campinas tomou a decisão de suspensão temporária (13 de março a 12 de abril) de suas atividades acadêmicas, diante da declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) da pandemia de Covid-19 causada pelo novo Coronavirus (2019-nCoV), anunciada em 11 de março de 2020 e retificada (com prorrogação) no dia de hoje (16).
A decisão dividiu a opinião pública e de especialistas da saúde pública, ao que o Reitor e sua equipe responderam em coletiva à imprensa no dia 13 de março, mantendo firme sua posição e esclarecendo, nas palavras do reitor Prof. Marcelo Knobel, "Sabemos que é uma decisão drástica, mas baseamos nossa opção em indicadores científicos e preferimos pecar pelo excesso de zelo do que pela omissão".
Diante do cenário inédito e que muda velozmente, minuto a minuto, decidimos elaborar este texto para sintetizar informações e canalizar fontes confiáveis de dados em saúde para a comunidade de estudantes, funcionários e docentes da FEnf, que podem estar confusos com a profusão de notícias sobre o assunto.
Para facilitar nossa comunicação, organizamos a “conversa” em perguntas e respostas diretas. Links importantes estão disponíveis ao longo do texto, para acesso rápido a fontes confiáveis de informação epidemiológica e científica.
- A Unicamp é um centro importante de aglomeração de pessoas procedentes de Campinas, região, do país e de várias partes do mundo. Nesse sentido suspender aulas e reduzir drasticamente a circulação de pessoas nos vários campi neste momento de expansão da epidemia no país é uma decisão institucional responsável de prevenção e alerta;
- Força suas comunidades a refletir sobre o assunto, buscar informações confiáveis e pensar estratégias coletivas de contingenciamento que são decisivas para salvar vidas. Nenhum impacto econômico pode ser mais importante do que o esforço de reduzir o número de infectados e possíveis óbitos;
- Considerando a forma de transmissão da doença, pelo contato direto com partículas de saliva e objetos contaminados, acreditamos que essa medida restritiva configura uma importante estratégia de prevenção em Saúde Pública, pois busca reduzir a onda de disseminação da epidemia em Campinas e região;
- A decisão de universidades de suspender aulas, grandes eventos e atividades acadêmicas está sendo tomada em várias instituições de ensino do Brasil e do mundo como forma de retardar o pico da epidemia, pois existe o risco real do colapso do sistema de saúde, que não está preparado para tantas internações em um espaço curto de tempo.
- Alguns governos dos estados e o Ministério já recomendaram esta medida, incluindo as escolas de ensino fundamental e médio, como uma das estratégias de redução da velocidade de propagação da epidemia;
- Embora a letalidade da doença não seja muito alta é preciso considerar que o novo coronavírus é mais um agente infeccioso, que somado aos outros existentes no Brasil, como sarampo, dengue, influenza, além das doenças crônicas não transmissíveis, e considerando a rapidez da sua disseminação, pode colocar nosso sistema de saúde em cheque. Para mais informações leia aqui.
- O desafio é conter a velocidade de disseminação do vírus, “achatando” a curva da epidemia, o que significa prolongar o tempo de propagação da doença e retardar seu pico, pois assim não teremos uma explosão abrupta de casos e ganhamos tempo para que o sistema se organize para atender os casos graves, consequentemente salvando vidas.
Gráfico elaborado pelo cientista Drew Harris e adaptado pelo biólogo Carl Bergstrom mostra como medidas de prevenção podem retardar o contágio da Covid-19 e evitar o colapso do sistema de saúde — Foto: Carl Bergstrom e Esther Kim/CC BY 2.0 (https://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/2020/03/12/um-grafico-explica-a-pandemia.ghtml)
- Com a expansão da pandemia, quem mais vai sentir suas consequências são os grupos mais pobres e vulneráveis. Portanto, a Unicamp está fazendo seu papel social de instituição científica de excelência que toma decisões em prol da saúde pública de sua comunidade interna e circunscrita.
- A difusão da ideia de que é “só mais uma gripe” é perigosa, pois pode passar a mensagem errônea de que os cuidados não são importantes. Enquanto Faculdade de Enfermagem, responsável pela formação de enfermeiras e enfermeiros que estão na linha de frente no enfrentamento da epidemia, precisamos tomar atitudes responsáveis de cuidado e orientação.
Desde janeiro de 2020 até 14 de março foram confirmados no mundo 142.539 casos da doença, sendo 56% da China e os demais em quase todos os territórios e países do mundo, sendo mais de 40.000 no continente europeu, considerado pela Organização Mundial da Saúde, o atual epicentro da epidemia. Até esta data foram confirmados mais de 5 mil mortos em todo o mundo.
Portanto, a taxa de letalidade da doença (número de óbitos/número de casos confirmados) é de 3,78%, com variações entre os países e para as diferentes faixas etárias. Na Itália, por exemplo, a taxa é de 7,18%, chegando a 15% em idosos acima de 80 anos. A letalidade mais alta está diretamente relacionada à capacidade dos países em dar respostas rápidas de contenção e mitigação antes que a epidemia cresça de forma descontrolada, o que evidencia a importância de medidas restritivas, de vigilância e de prevenção da doença o mais precoce possível.
No Brasil, até o momento (15 de março de 2020) foram registrados 3594 casos suspeitos, sendo 191 confirmados, 1486 descartados e 1917 seguem em investigação, sendo 0 (zero) óbitos. O estado com maior número de casos é São Paulo, com 65 casos confirmados e 765 em investigação (dados de 14 de março). Do total de casos confirmados no país 02 se referem a transmissão comunitária, um deles de Campinas, ou seja, pessoas que contraíram a doença no Brasil e não são comunicantes de casos importados de outros países ou de seus contatos, que porventura tenham adoecido. Campinas confirmou, até o momento, 01 caso e 35 continuam em investigação (dados de 14 de março). O gráfico abaixo ilustra o crescimento dos casos na saúde de São Paulo e evidencia uma tendência de crescimento muito rápido, que é justo o que queremos evitar:
Casos confirmados de Covid-19 residentes no município de São Paulo. 2020
Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo - SES.
Elaborado por: Brigina Kemp, epidemiologista, assessora do Conselho de Secretários de Saúde
de São Paulo - COSEMS SP e membro do Comitê de Operações Emergenciais Covid-19 (COE) do
Estado de São Paulo. Ex professora Dra. temporária da FEnf.
Precisamos estimular fortemente que as pessoas que apresentem sintomas leves não procurem de imediato o serviço de saúde (CS, UPA ou hospital) e façam o isolamento domiciliar até regressão dos sintomas. Só procurar o serviço de saúde os que sentirem febre, associada a falta de ar ou desconforto respiratório. Inicialmente procurar o Unidade Básica de Saúde ou a UPA, que fará avaliação do quadro. Em torno de 15 a 20% dos pacientes precisarão de assistência hospitalar e destes em torno de 5% necessitarão de leitos de UTI/respiradores, a maioria idosos ou portadores de doenças crônicas e que apresentarem Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Na medida em que a transmissão comunitária começa a ocorrer não serão colhidos exames confirmatórios de todos os casos, provavelmente só para aqueles que necessariamente forem suspeitos e que precisarem de cuidados de saúde em alguma unidade de saúde (CS, UPA ou hospital). Esses fluxos ainda estão sendo desenhados na cidade de Campinas e é importantes que os estudantes e profissionais de saúde se informem constantemente.
Para acompanhamento em tempo real da propagação da doença no Brasil e no mundo, acesse aqui.
Para conferir manejo clínico adotado pelo Ministério da Saúde, acesse aqui.
Para informações epidemiológicas da COVID-19 no Brasil, acesse o Boletim Epidemiológico 5 da Secretaria de Vigilância da Saúde do Ministério da Saúde.
A Enfermagem, como uma das equipes fundamentais no enfrentamento à Pandemia em todos os cenários, se soma à tarefa global de conter o pânico, com o acesso qualificado às informações disponíveis e com o cuidado de qualidade para a prevenção da doença e recuperação das pessoas acometidas pela COVID-19.
A saúde coletiva brasileira é composta por sanitaristas, vários trabalhadores e uma massa crítica de enfermeiras e enfermeiros que sustentam o Sistema Único de Saúde nos 5598 municípios, junto com a equipe de enfermagem e os agentes comunitários de saúde.
Neste cenário, as atribuições educativa e investigativa da Enfermagem, para além da assistência direta ao indivíduo doente, são fundamentais para contenção da epidemia, pois dispõe dos recursos técnicos e científicos de comunicação e educação em saúde que afetam a percepção da comunidade sobre o problema e promovem mudança de comportamento.
Para maiores informações sobre o papel da Enfermagem frente a doença, acesse as páginas oficiais da ABEn Nacional, COFEn, COREn-SP e Conselho Internacional de Enfermeiros.
Como divulgado anteriormente, a Faculdade de Enfermagem apresentou seu plano de contingenciamento, conforme deliberado, acatando a orientação de suspensão de todas as aulas teóricas e práticas, estágios e reuniões científicas de graduação e pós-graduação. Embora pareça uma decisão extrema e antecipada para alguns, quando consideramos a forma de transmissão da doença (pelo contato direto com partículas de saliva e objetos contaminados) e combinamos com o perfil de uma universidade como a nossa, com aglomeração e circulação diárias de mais de 80 mil pessoas de todas as faixas etárias, com um complexo hospitalar no coração do campus, entendemos que interromper suas atividades significa segurar a onda da epidemia em Campinas e região, o que configura uma grande estratégia de prevenção em Saúde Pública.
Como profissionais e estudantes da saúde, temos a responsabilidade de, além de nos cuidar, esclarecer e compartilhar o cuidado de modo a manter o máximo de saúde e vida com qualidade para todos!
Com este objetivo, algumas medidas protetivas neste momento são muito importantes de serem divulgadas nas nossas redes familiares e sociais, das quais destacamos:
#fiquemcasa ? - controlar a velocidade da propagação do vírus é a principal ferramenta para conter a epidemia e não estrangular a capacidade do sistema de saúde. Evitar aglomerações, reuniões, frequência a shoppings, baladas, festas, eventos esportivos e técnico-científicos. A recomendação é para todos e principalmente para idosos e portadores de doenças crônicas.
#laveasmaos ? - a lavagem frequente e completa das mãos com água e sabão é a forma mais eficiente de eliminar o vírus. Álcool em gel a 70% pode ajudar mais nas situações em que você estiver fora de casa.
#sembeijoeabraco ?- parece esquisito, mas neste momento crítico, educado é manter distância social e evitar contato físico.
#etiquetarespiratoria - se manifestar algum sintoma respiratório, fique em casa e intensifique os cuidados. Proteger a boca e o nariz com um lenço de papel ou com o braço ao tossir ou espirrar.
#turbineimunidade - cuide da alimentação caprichando nos alimentos que reforçam o sistema imunológico.
#mascaraagoranao ? - os especialistas recomendam uso de máscara apenas nos casos suspeitos e confirmados de infecção. Lembre-se que este item é fundamental para os profissionais de saúde que estarão na linha de frente cuidando dos doentes
#secuidemcasa ? - não é recomendado procurar o serviço de saúde a qualquer sinal de gripe ou mal estar, pois pode se expor desnecessariamente e ainda sobrecarregar o sistema. Procurar serviço de saúde somente com sinal de complicação, como falta de ar ou dor ao respirar.
#chequeainformação - confira a procedência de informações circuladas na redes sociais antes de divulgar. Circule informações de qualidade e se disponha a esclarecer dúvidas e orientar sua comunidade.
Lembrando que estamos em uma batalha contra o vírus e que somos agentes fundamentais neste enfrentamento!
Campinas, 16 de março de 2020